A criatividade, a autonomia e a excelência em redação desenvolvidas no Piedade demonstraram seus frutos, em um texto autoral desenvolvido pelo estudante Erasmo, da 3ª série do Piedade Vest.
Com inspirações que remetem ao jornalismo literário e técnicas de escrita criativa, o texto do estudante aborda a narrativa da Independência do Brasil, e foi apresentado para os colegas em alusão aos 200 anos do fato histórico.
Confira o texto completo:
Independência ou morte
As margens do riacho Ipiranga, Dom Pedro I, grita, mas não aquela célebre frase: “Independência ou morte”, mas um gemido de dor, afinal o príncipe Dom Pedro já está cansado de sua longa viagem de Santos para São Paulo, ele para no riacho do Ipiranga pela oitava vez, de modo a possibilitar que evacuasse, tudo isso devido à sua diarreia adquirida na viagem. Ele não estava montado em um grande e esbelto cavalo como proposto pela pintura de Pedro Américo, mas sim em uma mula, como atestam os relatos do futuro Barão de Pindamonhangaba e outros escrivães que o acompanhavam.
No instante desse momento de chamado da natureza, chegam os chamados Correios Reais para o príncipe. Esses Correios foram assinados pela princesa e também sua mulher, Leopoldina, e pelo grandessíssimo patrono da Independência, José Bonifácio, que relatam a ordem de retrocesso do Brasil, a colônia de Portugal, como havia sido proposto pelas cortes extraordinárias e constituintes de Lisboa.
No entanto, vejam só vocês, esse fato é importante, não há o que discordar, mas claramente influenciado pelo viés positivista da história, que contempla a criação, mitificação e eleição de heróis nacionais. Porém, um fato de tal magnitude como esse não poderia simplesmente ocorrer em um dia para o outro. Foi um longo e demorado processo, tendo iniciado em 1808, com a vinda de Dom João VI e de toda a família real para o Brasil, assim como os nobres e toda elite portuguesa, desenvolvendo o país e trazendo para cá um pouco da Europa. Nessa vinda, chega Dom Pedro, o Pedrinho, o Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, que era casado coma grande, inteligente, letrada, lúcida, belíssima, esplêndida, arquidurquesa austríaca, Carolina Josefa Leopoldina Fernanda Francisca de Habsburgo-Lorena, ou, simplesmente, Maria Leopoldina da Áustria, com quem, anos mais tarde, teria um filho sobrevivente, chamado de Pedro II ou também conhecido Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e Bourbon.
Outro fato digno de ser exposto, é que Dom Pedro viajou a São Paulo pela antiga trilha que ligava os tamoios e cariocas do Rio de Janeiro aos Tupiniquins de São Paulo, e muito antes da chegada dos portugueses, já se odiavam. No entanto, uma trilha ligava os dois territórios, trilha essa que com o passar dos anos foi sendo aumentada e aprimorada, sendo hoje o que chamamos de Via Dutra. Além disso, nessa mesma viagem que visava acalmar revoltas provinciais no estado e cidade de São Paulo, Dom Pedro conhece o único amor de sua vida como foi exposto por ele, a Domitila de Castro que viria ser, em cargo dado por ele, a Marquesa de Santos.
No entanto, como já exposto, toda essa Independência ocorreu devido a um processo que ficou evidenciado em 1822, sendo iniciado no dia 09 de janeiro desse mesmo ano com o “Dia do Fico”, que foi, para figura de Dom Pedro, de caráter primordial. Mas o que poucos sabem é o fato do príncipe ter dado uma primeira resposta antes da célebre frase que todos conhecemos: “Convencido de que a presença da minha pessoa no Brasil interessa ao bem de toda nação portuguesa, e conhecido que a vontade de algumas províncias assim como o requer, demorarei a minha saída até que as cortes e meu Augusto pai e senhor deliberem a respeito, com perfeito conhecimento das circunstâncias que tem decorrido”.
Esse pequeno manifesto não agradou as pessoas, que receberam friamente a versão. Na verdade, como dizem os opositores, essa resposta paliativa não agradou a ninguém, os oficiais portugueses viram com indignação que o príncipe, para satisfazer os cabras e os corcundas, resolve não partir imediatamente, como as Cortes haviam ordenado. Já aos patriotas, não podia satisfazer um simples adiamento, máxime quando não tinham a menor dúvida de que as autoridades deveriam insistir no cumprimento da sua ordem, sendo, então, necessário repetir os esforços que haviam empregado em circunstâncias certamente precárias, porque as Cortes teriam tempo para tomar providências, para não serem novamente desobedecidas.
Após saber disto, vendo que havia provocado descontentamento geral e recebendo, talvez, sentidas queixas de seus íntimos pelo não cumprimento integral de sua promessa, e, principalmente, vendo-se colocado na situação de ter de optar entre a sujeição às Cortes e o papel de fundador de um grande império, Dom Pedro resolveu-se a “passar o Rubicão”. Mandou chamar, no mesmo dia, José Clemente, ordenando-lhe que substituísse a primeira resposta pela seguinte: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto; diga ao povo que fico.” Essa resposta que seria a célebre frase dita nos nossos livros de história consta de uma declaração inserida no final do alto de variação do dia de 08 de janeiro de 1822 (e que foi escrita pelo escrivão da Câmara, José Martins da Rocha, porém foi assinada por José Clemente Pereira), sendo essa a história que realmente se deveria registrar, porque se tornou oficial.
E voltando agora ao riacho do Ipiranga, a frase dita por Pedro I é “As cortes querem mesmo escravizar o Brasil. Cumpre, portanto, declarar já a nossa Independência. Desde este momento estamos definitivamente separados de Portugal: Independência ou Morte seja a nossa divisa!”.
Pessoalmente, acho que no riacho do Ipiranga, ao invés de “Independência ou Morte” ele teria gritado “a diarreia está forte”. Porém os que estavam ali o entenderam equivocadamente.
Outro ponto que foi desencadeado no riacho do Ipiranga são os “Manifestos de Agosto” ou “de primeiro de agosto e outro do seis de agosto” escrito pelo patrono de nossa Independência José Bonifácio. É importante ressaltar que esses manifestos continham pouco ou nenhuma partipação popular, contendo em sua imensa maioria membros da elite.
No entanto, tudo que eu vos disse até agora é nada menos do que uma vírgula no processo de independência do Brasil, afinal independência de verdade é quando ela é reconhecida, vejamos nós por exemplo, se eu disser hoje, ao chegar em casa, que sou independente, eu me procramaria independente. No entanto, eu não seria reconhecido independente pela minha mãe, pela minha irmã, pela minha avó, então, desse modo, a minha independência seria restrita somente a mim, pois aqueles que convivem e tem relações comigo não reconheceriam-a.
Esse exemplo pode visto na história do Brasil, com não reconhecimento de Portugal, Reino Unido e demais países quanto a independência, pois o nosso país, em 1810, havia feito um tratado juntamente com Portugal e o Reino Unido, que congelava a implementação de indústrias no Brasil e que teria como o prazo de validade 1825, sendo esse o ano em que ele foi renegociado. Dessa forma, somente em 1825 é que o Brasil teria chances de se tornar realmente e reconhecidamente independente, já que somente o Estados Unidos apoiava e reconhecia nossa independência, e todo o Grêmio das Nações não reconhecia. Até mesmo os países que circundeiam o país e compõem a América Latina não reconheciam a independência, pois eles achavam que poderia haver um processo de restauração, pelo fato do Brasil ser uma monarquia, que tomaria todo o território da América Latina acabando com todas aquelas nações latinas, formando desta forma o Grande Império do Brasil.
Assim, a data real de independência de nosso país é 29 de agosto de 1825, pois neste dia que é assinado o tratado de separação brasileira do Reino Unido de Portugal e Algarves, o Tratado de Paz, Amizade e Aliança, e esse tratado era um verdadeiro absurdo. Alguns aspectos que o tornam uma lástima para o Brasil são o fato de que, por exemplo, Dom João VI continuava a ser o rei do Brasil, o imperador do país, e apenas delegava essa função ao seu filho Dom Pedro I. Além disso, agora entra a pior parte desse tratado: o Brasil deveria pagar 100 mil libras esterlinas para que a Inglaterra intermediasse a transação e reconhecesse a nossa Independência, outras 600.000 libras esterlinas para Portugal como indenização a nossa Independência, além do mais absurdo dos fatos, o Brasil com esse tratado assumiu a impagável dívida de Portugal para com o Reino Unido, que era de incríveis, estonteantes e acachapantes 2 milhões de libras esterlinas.
Tudo isso, somado ao fato de que Brasil não tinha reserva de valor, afinal, Dom João VI, ao retornar para a Europa, raspou toda a poupança criada pelo Banco do Brasil, falindo-o. Dessa maneira, foi o Brasil quem teve que contrair um empréstimo de 3.600.200 de libras junto ao banco Rothschild e Barings, com juros de 5% ao ano e um desconto inicial de 18.33%. Assim após pagar os 2 milhões de libras de dívida, as 600.000 libras de Portugal e e a 100.000 libras da intermediação inglesa, e o que restou para o Brasil foi irrisório perto da dívida assumida. E o mais magnífico de tudo, quem paga pagou e pagará essa conta é você, é seu pai, sua mãe, somos todos nós.
No entanto, voltando um pouco na linha cronológica da história foi apenas no dia 29 de agosto de 1821, na Convenção de Beberibe, o primeiro momento reconhecido em que o Brasil se separa de Portugal. O fato aconteceu quando, em uma revolta no Recife, em Pernambuco, uma das cidades mais ricas do Brasil, são expulsos os exércitos portugueses, e é dado um passo definitivo para a independência do Brasil. E essa primeira revolta desencadeia várias outras revoltas regionais que somam mais de três mil mortos, como a Batalha do Jenipapo, a batalha dos guerreiros e sertanejos anônimos, em 13 de março de 1823. Em 2 de Julho de 1823, ocorre a expulsão completa dos portugueses do Brasil, consolidando, assim, a independência.
Há quem diga que a independência do Brasil foi um processo frio, sem guerras, não foi sangrento, no entanto, todas as evidências históricas apontam para o contrário. Foi um período duro, intenso e sangrento. Dentre as áreas de guerras destacam-se a Inressurreição Baiana, as revoltas do Piauí, Maranhão (em que se destacam as figuras do incrível Lorde Cochrane e o batismo de fogo do futuro Duque de Caxias) e Grão-Pará (onde a independência só aconteceu em agosto de 1823).
Saudemos aos heróis anônimos de nossa independência, ao povo brasileiro, ao brilhante José Bonifácio e a incrível e decisiva Imperatriz Leopoldina.
Erasmo Magalhães Bibiano – 05.09.2022